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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Marcha contra a violência e o extermínio de jovens no Maranhão

Por Kátia Braga

A violência coloca-se hoje como um fenômeno devastador da vida do ser humano, assumindo formas e nuances anteriormente nunca vistas. Não há privilegiados nesse sentido, pois todas as pessoas, independente de cor, raça ou condição social são afetadas pela violência.

No Brasil um dos grupos ou segmentos sociais que se encontram mais vulneráveis ao fenômeno da violência são as Juventudes. Nesse contexto os jovens são, ao mesmo tempo, vítimas e protagonistas da violência.

A violência que extermina nossos jovens rompeu fronteiras geográficas e políticas, além de assumir novos significados. Ela vem se manifestando sutilmente através de gestos e atitudes que nos parecem banais e corriqueiros fazendo-se presente no dia a dia, sob outras formas, espreitando nossas mentes e nossas almas, provocando-nos um terrível sentimento de insegurança. A violência contra/entre jovens não se trata mais de um fenômeno exclusivo de uma localidade como, por exemplo, de uma grande metrópole do Sul do país. De acordo com o mapa da Violência 2011, divulgado recentemente, realizada pelo o Instituto Sangari e o Ministério da Justiça, o índice de violência no interior aumentou significavelmente, o que contribuiu para o crescimento da taxa de homicídios juvenis no país.

O Mapa da Violência 2011 dá visibilidade ao aumento de homicídios que o Estado do Maranhão registrou entre 1998 a 2008, o que colocou o estado em uma situação preocupante para o país. Na evolução do número de homicídios o Maranhão faz parte do grupo de estados que quadruplicaram seu número de homicídios no período abordado pela pesquisa, destacando-se no Nordeste como a Unidade Federativa que mais cresceu em número de homicídios na população de 15 a 24 anos no período de 1998 a 2008.

Número de homicídios na população de 15 a 24 nos no estado do Maranhão

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

74

70

133

208

194

259

252

322

337

394

455

FONTE:Mapa da Violência 2011, pág. 27 , tabela 3.1.4

Entre essas taxas de homicídio na população de 15 a 24 anos no Maranhão em 2008, 94,2% são do sexo masculino e 5,8% do sexo feminino. Quanto ao número de homicídios por raça na população jovem, a pesquisa registrou a alta taxa de vitimização negra no Estado entre 2002 a 2008 levando-o a ocupar a 11ª posição na lista das Unidades Federativas.

brancos

2002

2005

2008

26

37

46

negros

2002

2005

2008

164

271

401

FONTE: Mapa da Violência 2011, pag. 61, tabela 3.7.4

Outra categoria que o Maranhão se destacou-se de forma negativa no Mapa da violência foi em relação à taxa de homicídio por capital e municípios. São Luís que ocupava a 26ª posição em 1998 em número de homicídios na população de 15 a 24 anos , saltou para a 12ª posição em 2008 na lista das capitais do país. Ao longo dos dez anos, só aumentou o numero de homicídios na capital, foram 176 casos registrados em 2008, deixando para trás, inclusive grandes metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. A cidade de Imperatriz aparece entre os 100 municípios do Brasil com 10 mil jovens ou mais, que se destacam em números de homicídios na população jovem entre 2006 a 2008 ocupando a 18ª posição na lista.

As mortes violentas de jovens no Maranhão não aumentaram apenas no quesito homicídios, mas também nas outras duas causas externas de mortes apontadas pelo o mapa da Violência: Acidentes de Trânsito e Suicídios. O número de óbitos por acidente de transporte na população de 15 a 24 anos colocou São Luís, mais uma vez, como capital que apresentou um índice de crescimento preocupante ao longo do período de 1998 a 2008. Além disso, o Maranhão teve mais dois municípios que compõem a lista dos 100 com 10 mil jovens ou mais em todo país que apresentam o maior número de mortes na população de 15 a 24 anos por acidentes de transporte, Imperatriz, com uma posição bem negativa, 16ª posição e finalizando a lista, Açailandia. Vale ressaltar que o município de Bacabeira se destacou-se em 7ª posição na lista dos 100 municípios em número de mortes por acidentes de transportes em relação a sua população total.

Quanto aos Suicídios, outra cidade maranhense reforça a estatística violenta de mortes de jovens no Brasil. A cidade de Caxias elenca a lista dos 100 municípios do Brasil, com 10 mil ou mais jovens, que apresentam as maiores taxas de Suicídios na população de 15 a 24 anos.

Diante de todos esses dados se confirma que o Maranhão apresenta as problemáticas levantadas no Mapa da Violência como fatores que contribui para a concentração de violência em algumas regiões do interior do Brasil, como a falta de aparelhamento do sistema de segurança do estado, gigantescos empreendimentos de cunho agrícola e de extração de recursos naturais que associados à falta de atenção às políticas públicas, têm gerado no estado um ambiente de destruição ambiental, contrabandos, grilagem de terras, extermínio de populações indígenas e trabalho escravo, tornando o Maranhão em um espaço vulnerável a violência.

A violência, afeta a todos e de todos exige uma resposta: Nossos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), Movimentos Sociais, Igrejas, Mídia, Instituições educacionais ( fundamental, médio e superior), grupos e indivíduos de toda sociedade. É necessário e urgente que todos dêem a sua contribuição para superar o problema ou mesmo reduzir a sua ocorrência, pois a missão de todos nós cristãos deve ser a mesma de Jesus Cristo, ser radicais em favor da vida, no amor ao próximo, sem fazer distinção de raça, credo ou classe social.

Acredita-se que a fala, a denúncia e um trabalho de formação e conscientização sócio-educativa, são algumas formas que podem e devem ser utilizadas, no sentido de encontrar alternativas de ações concretas para a reversão ou minimização das estatísticas negativas que o Maranhão assumiu em relação à situação de suas juventudes. Por isso a necessidade da difusão no estado da CAMPANHA NACIONAL CONTRA VIOLÊNCIA E EXTERMÍNIO DE JOVENS, para levar toda sociedade ao debate sobre as diversas formas de violência contra a juventude, especialmente o extermínio de jovens que vem acontecendo no Estado. A Campanha, idealizada pelas Pastorais de Juventude do Brasil, visa avançar na conscientização e desencadear ações que possam mudar a realidade de morte de jovens em todo o Brasil, por isso, solicita toda a sociedade que somem forças para encaminhar o pedido aos Bispos do Brasil que em 2013 a Campanha da Fraternidade tenha como tema a Juventude. É preciso que todos colaborem, com a coleta de um milhão de assinaturas até dia 17 de abril de 2011.

A Pastoral da Juventude do Maranhão que há 25 anos desenvolve um trabalho de evangelização da juventude nas 12 dioceses que compõem o Regional Nordeste V (São Luís, Caxias, Bacabal, Coroatá, Brejo, Pinheiro, Carolina, Imperatriz, Grajaú, Balsas, Viana e Zé Doca) fortalece a luta pela defesa da vida da juventude maranhense, a partir de seu processo de Revitalização em comunhão com Projeto nacional de Evangelização “O Brasil na Missão Continental”. Essa ação missionária associada à Campanha Contra a Violência e o extermínio de jovens no Maranhão contribuirá para a superação das marcas da violência e do medo que afetam nossos jovens através do protagonismo juvenil, da criatividade, pela construção de uma esperança em relação à vida, à amizade, no estabelecimento de valores e de solidariedade e no encontro com o outro.É necessário que cada um de nós sinta-se responsável pela superação dos sinais de morte que extermina nossos jovens, é nosso dever, como filhos e filhas de Deus, cuidar da vida “O MEU DESEJO É A VIDA DO MEU POVO” (Es 7,3).Caxias, 31/03/10